A página está em branco.
Inutilmente busco a
inspiração.
Por que não falar de amor?
Não. Saudade, talvez.
Quem sabe melhor seria falar
de paz?
Os temas surgem, mas não
agradam.
O poeta só se inspira na
paixão ou sofrimento.
Não estou amando nem
sofrendo.
E sem sentimento,
Não bate acelerado o coração,
Nem surgem lágrimas de dor.
Se diz o poeta que
“o poeta é um fingidor,”
Basta simular a sensação
E discorrer sobre o
sentimento que não sinto,
Mas que a outros parecerá
verdadeiro.
Escrever palavras cheias de
angústia,
Ou lapidar ondas de emoção,
Que não são sentidas,
Será virtude ou insensatez?
Discorrer sobre temas não vividos,
Falar de sonhos não sonhados,
Será talento ou embriaguez?
Não importa!
Só o homem consegue tirar o
tudo, do nada;
Só o ser pensante pode
inventar a dor que não sente,
Ou a felicidade que não
existe,
Chorar sem dor,
E sorrir sem alegria.
Se penso, existo;
Se existo, escrevo.
E se escrevo, preencho a vida
E esta página, que não está
mais vazia.
Pedro Lodi — escritor e presidente da AIL (cadeira nº